quinta-feira, 18 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 21 DE ABRIL DE 2024 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

O SENHOR FAZ MARAVILHAS AOS NOSSOS OLHOS

O brasileiro sempre tem explicações muito distintas para uma mesma realidade e isso tem a ver também com o sentido que se dá a determinadas expressões. Por exemplo, quando falamos a palavra “BOM” podemos nos referir ao paladar e a certos pratos apresentados para as refeições; usamos também para qualificar uma peça de roupa que cai no gosto das pessoas; é Bom também um determinado objeto que se compra ou vende. Bom é também um professor, um advogado, um trabalhador braçal, um pai, uma mãe e assim por diante.

Pois no Evangelho desse domingo Jesus se intitula “Bom pastor”. Ora, quais sentidos podemos dar a esta expressão de acordo com a riqueza do nosso idioma? Certamente podemos dizer que a expressão signifique: “Modelo de pastor, ideal de pastor, pessoa comprometida com a causa, sujeito que veste a camisa, aquele que não tem medo de enfrentar as adversidades da profissão” e assim por diante.

O evangelista que põe na boca de Jesus a expressão Bom pastor e mercenário para os maus pastores buscou o sentido da expressão no profeta Ezequiel que havia dado uma chamada de atenção nos líderes judaicos do seu tempo dizendo: “Vocês foram maus pastores, não cuidaram do rebanho, Deus mesmo vai retirar as responsabilidades que lhes havia confiado e via assumir o cuidado do seu povo”.

E agora Jesus se apresenta exatamente como aquele que veio para assumir o lugar dos outros que não haviam “vestido a camisa” quando se tratava de cuidar do rebanho, e não somente do rebanho que estava seguro: “Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem... Tenho ainda outras ovelhas que não são deste rebanho, também a elas devo procurar e cuidar. Eu sou o Bom Pastor”.

É com base nesta afirmação que Pedro vai recuperar o que rezamos no Salmo: “Ele é a pedra que os pedreiros rejeitaram e que se tornou agora a pedra principal, pelo Senhor é que foi feito tudo isso e é obra admirável aos nossos olhos”.

E o autor da segunda leitura afirma que Deus age como aquele que cuida porque nos tem como filhos e filhas, sua preocupação está centrada em nos ajudar a superar todas as fragilidades e debilidades de um rebanho que nem sempre se cuidou e nem tampouco foi cuidado como deveria.

Como tarefa para e responsabilidade de cristãos, seguidores de Jesus todos somos convidados a participar da mesma missão de Jesus que consiste em dar a vida por suas ovelhas e ir ao encontro daquelas que estão perdidas, desgarradas. Somos convidados a ultrapassar as fronteiras do rebanho e independente da situação de cada pessoa trabalhar para que se forme um só rebanho e um só pastor. E para que isto aconteça não devemos desperdiçar nenhuma das pequenas oportunidades para acolher, incluir e fazer caminhar juntos. Nada nem ninguém deve nos impedir de caminhar juntos!

 

 

 

sexta-feira, 5 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 14 DE ABRIL DE 2024 -3º DOMINO DA PÁSCOA - ANO B

 

VOCÊS SERÃO TESTEMUNHAS DE TUDO ISSO!

Dentre as sensações que gostamos de sentir, uma delas é a consciência tranquila e frequentemente dizemos: O melhor travesseiro é uma consciência limpa! Pois o salmo que rezamos hoje nos coloca uma condição fundamental “Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida”!

E a segurança que Deus nos dá passa pelo reconhecimento de quem é Jesus: “Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos”. Na primeira leitura Pedro garante que Jesus está vivo e continua a oferecer-se para todos os que o acolhem. Tanto para os que tramaram a morte de Jesus, como para a sociedade contemporânea Jesus Cristo continua sendo a presença amorosa e misericordiosa de Deus que abre sempre portas e possibilidade para a reconciliação. Jesus não é uma figura do passado. Ele continua vivo e presente nos caminhos do mundo.  Cabe a nós, por nosso estilo de vida facilitar que as pessoas percebam, descubram e façam também eles a experiência do encontro vivo com Jesus vivo!

Na segunda leitura o autor insiste que o encontro com Jesus supõe a capacidade de viver de forma coerente as propostas que Ele apresentou. Apesar dos pecados e fragilidades de cada pessoa somos sempre desafiados a viver os mandamentos de Deus. Em resumo, a possibilidade de viver a comunhão com Deus implica viver a comunhão com as pessoas. Um cristão que gasta todo o seu tempo em muitas rezas e solenes liturgias, mas não tem compaixão das pessoas feridas e abandonas nas estradas da vida, este não entendeu nada sobre o Deus que Jesus revelou com sua vida.

No Evangelho Lucas conta mais uma aparição de Jesus, não faz isso com o objetivo de relatar um fato extraordinário, mas com a finalidade de mostrar como é extraordinária a experiência do encontro com Jesus e deixa claro que o lugar para isso é a comunidade. Naturalmente o reconhecimento do ressuscitado exige um caminho penoso e carregado de dúvidas e incertezas, mas se trata de percorrer com a mente e o coração abertos. Tanto os discípulos de ontem como os cristãos de hoje são convidados a percorrer o mesmo caminho. Tanto para os discípulos de outrora como para cada um de nós é importante ter claro que a iniciativa é sempre d’Ele e que continua sendo o mesmo Jesus que trilhou com os discípulos os caminhos da Palestina de outrora.

O Evangelho se conclui com uma tarefa que se perpetua até hoje: “O Cristo sofrerá
e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém'. Vós sereis testemunhas de tudo isso".

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 07 DE ABRIL DE 2024 - 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

FELIZES AQUELES QUE ACREDITAM

Na oração inicial deste domingo o padre nos convida a rezar com as seguintes palavras: “Aumentai a graça que nos destes, para que todos compreendam melhor o batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu vida nova e o sangue que nos resgatou”.

Esta afirmação tem por objetivo nos ajudar a perceber que os cinquenta dias depois do domingo da páscoa é a oportunidade para fundamentar tudo o que acreditamos colocando Jesus como centro de nossas vidas. A páscoa é um convite para construir valores de comunhão, de fraternidade, de sinodalidade. O tempo é para relativizar os caprichos e vontades pessoais e seguindo o exemplo dos discípulos moldar nossas vidas na vida de Jesus.

Os desafios contemporâneos não são menores que aqueles vivido pelas comunidades primitivas. Mas todos somos desafiados a incluir e construir a paz, a diminuir as desigualdades e fazer triunfar a justiça.

A páscoa nos ensina a esperança e alegria de quem reconhece no testemunho da tantos homens e mulheres que ao longo do tempo compreenderam e viveram a fé que depositavam na pessoa de Jesus Cristo.

O texto dos Atos dos Apóstolos, escrito cerca de 50 anos depois da morte de Jesus, já encontrava comunidade desanimadas e pouco afeitas ao estilo de vida daqueles que conviveram com Jesus. Nesse contexto o autor do livro dos Atos dos apóstolos recorda um modelo de comunidade do início do cristianismo e conclui: “e não havia necessitados entre eles”. Em resumo a proposta de Jesus não foi para os primeiros cristãos uma “conversa de buteco”, mas a instalação de novo estilo de vida comprometendo uns com os outros um amor que partilha e que é solidário.

A carta de João afirma que aquele ama a Deus e aceita Jesus Cristo faz de sua vida um serviço de comunhão e fraternidade afinal todos somos irmãos.

No Evangelho mais uma vez Jesus aparece como o centro da comunidade e somente quem o reconhece, ainda que não o tenha visto fisicamente, tem coragem para enfrentar todas as dificuldades que a vida lhe apresenta. E não há outra forma de ver Jesus se não na prática de caminhar juntos.

De toda forma a proposta do Evangelho é para os que estão na comunidade e para os que estão fora. Todos chamados a inclusão e acolhida. Uns e outros são desafiados e acreditar no testemunho e na palavra: “Felizes os que creram sem ter visto”!

sexta-feira, 22 de março de 2024

HOMILIA PARA O DIA 30 DE MARÇO DE 2024 - SÁBADO SANTO - ANO B

 

RENOVAÇÃO PARA UMA VIDA NOVA

É um entendimento geral que a história das pessoas e do mundo é marcada por ciclos, e que após períodos difíceis, novas oportunidades se abrem. É com esse pensamento que os cristãos encaram o Sábado Santo, celebrando a vitória da vida sobre todas as forças da morte, desafiando as previsões mais sombrias. A celebração do Sábado Santo é uma oportunidade de fortalecer a fé da Igreja e de todas as pessoas, reconhecendo Jesus Cristo, que continua renovando todas as coisas.

As leituras e os salmos proclamados nas celebrações do Sábado Santo fazem uma retrospectiva de toda a história, desde a criação até a redenção definitiva em Jesus Cristo. A fraqueza humana levou homens e mulheres, em todos os tempos, a se desviarem de Deus e de Seu plano, uma situação que ecoa muito no mundo contemporâneo. No entanto, é certo que Deus não nos abandona.

Celebrar a Páscoa de Cristo implica compreender que a ressurreição de Jesus ocorre novamente sempre que pessoas e comunidades trabalham de forma decidida no cuidado com a vida, como salientou o Papa Francisco no documento Laudato Si: "Dessa forma, cuida-se do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, com um senso de solidariedade que é, ao mesmo tempo, a consciência de habitar na casa comum que Deus nos confiou. Essas ações comunitárias, quando expressam um amor que se doa, podem transformar-se em experiências espirituais intensas".

Orar no Sábado Santo, unindo as vozes de todos os fiéis, é uma maneira de reconhecer a vitória da ressurreição de Jesus e o convite continuo que é feito: trabalhar para transformar a história e o mundo. A palavra dirigida às mulheres no sepulcro ressoa para cada pessoa neste Sábado de Aleluia: "Não procurem entre os mortos aquele que está vivo".

A comunhão de fé e esperança, unindo os crentes na ressurreição de Jesus, enche as comunidades de alegria e faz com que recordem as maravilhas de Deus ao longo da história. Essa lembrança fortalece as comunidades que enfrentam todo tipo de sofrimento e dor.

 

 

 



 

HOMILIA PARA O DIA 31 DE MARÇO DE 2024 - DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 


PERSEVERAR NA BUSCA DO DIVINO

 

Celebrar o Domingo da Páscoa é reiterar a convicção de que condições melhores são possíveis para a vida de todos. Tanto no imaginário popular quanto no comércio, os símbolos utilizados para a Páscoa estão carregados de significado simbólico que apontam para a abundância da vida.

São João Crisóstomo, que viveu por volta do século IV d.C., observou: "Percebo que nossa assembleia está mais resplandecente hoje do que de costume, e que a Igreja de Deus exulta por causa de seus filhos".

O próximo passo para os cristãos é testemunhar com a vida e com a palavra, assim como fizeram os apóstolos ao reconhecerem o Ressuscitado, como afirmou Pedro na primeira leitura: "Nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia". Ou como enfatizou São Paulo: "Ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às terrenas".

Ao se depararem com o túmulo vazio, os amigos de Jesus perceberam que ali não havia espaço para a morte e a tristeza. Como registra o Evangelho: "João viu e acreditou... Jesus está vivo, embora ainda não tenham compreendido plenamente o significado da ressurreição dos mortos".

Assim como ontem, hoje, a ressurreição de Jesus continua sendo o evento mais extraordinário, alimentando a esperança e abrindo caminho para uma nova vida. À medida que se crê nas palavras do Evangelho, cada pessoa é convidada a celebrar a Páscoa, deixando-se transformar por essa verdade, sem medo de amar a Deus na pessoa de cada irmão e sem hesitar em proclamar com a boca aquilo que se vive com o coração.

 

HOMILIA PARA O DIA 29 DE MARÇO DE 2024 - SEXTA FEIRA DA PAIXÃO - ANO B

 

EIS O SÍMBOLO DA RENÚNCIA...

 

As vicissitudes humanas diante da inevitabilidade da morte são inúmeras. Mesmo conscientes de que a morte é uma certeza e que todos, em algum momento, a enfrentarão, ela permanece dolorosa, angustiante e muitas vezes inexplicável. Ao celebrar a morte de Jesus de forma solene, não estamos enaltecendo a morte ou a dor em si. Pelo contrário, com essa celebração, a Igreja nos convida a lembrar do seu próprio nascimento. É da abertura do lado de Cristo que surge a Igreja e os sacramentos nela instituídos.

A observância da Sexta-feira Santa, dentro da liturgia da Igreja, traz à tona o sofrimento de Cristo na cruz, destacando a ideia de que a "Páscoa de Cristo" é também a "Páscoa da Gente". Neste contexto, os fiéis não se reúnem apenas para lembrar um evento ocorrido há dois mil anos, mas para refletir sobre como o sofrimento de Cristo ecoa nos sofrimentos do povo contemporâneo.

Nesse momento, somos também instados a ter a firme determinação de não nos calarmos nem nos acovardarmos diante dos sofrimentos alheios. Celebrar o Cristo que deu sua vida por todos é uma convocação para aguardar o dia jubiloso da vinda gloriosa do Senhor, quando não haverá mais dor, sofrimento ou morte.

Celebrar devotamente a Sexta-feira Santa implica fazer escolhas significativas. Podemos adotar a postura de Pilatos, lavando as mãos diante das aflições alheias, ou seguir o exemplo de Pedro, negando qualquer conexão com o sofrimento dos outros. Também há a opção de agir como Judas, traindo aqueles que nos são próximo em momentos de necessidade. No entanto, a verdadeira essência do cristianismo se manifesta na postura do ladrão arrependido, reconhecendo sua própria fragilidade diante do divino, ou na atitude do Cirineu, que auxilia o próximo a carregar seus fardos. Podemos, ainda, nos assemelhar a Maria Madalena, Maria, a Mãe de Jesus, e outras mulheres que acompanharam Cristo até o Calvário.

Não é por acaso que foi a essas mulheres que Jesus apareceu primeiro após a ressurreição, no domingo de Páscoa. A Sexta-feira Santa nos convida a experimentar aquilo que é proclamado na carta aos Hebreus: temos um sumo sacerdote eminente em Jesus Cristo, o Filho de Deus. Portanto, devemos permanecer firmes na nossa fé.

Durante sua vida terrena, Cristo dirigiu súplicas fervorosas, com lágrimas e clamores, e foi ouvido devido à sua perseverança. Sendo divino, ele também conheceu o sofrimento, mas não se rendeu a ele, conforme expresso na sua súplica no Getsêmani. Sua resiliência o permitiu superar os desafios, as ameaças e até mesmo a morte.

A Sexta-feira Santa nos coloca diante das cruzes cotidianas e nos desafia a ser persistentes e firmes na nossa fé. É a participação de todos que assegurará a transição do Calvário para a vida renovada da Páscoa.

Reunidos nesta celebração da paixão, os cristãos têm a certeza de que a dor e a desilusão da morte revelam os mistérios da grandiosidade de Deus, convidando-os a ações cotidianas através das quais o mundo sombrio das cruzes e do sofrimento pode resplandecer como o sol fértil de amor e paz. Por isso, entoamos sem temor: "Vitória tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás".

 

quinta-feira, 21 de março de 2024

HOMILIA PARA O DIA 28 DE MARÇO DE 2024 - QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA - ANO B

 LAVAR OS PÉS, A FORÇA DA COMPAIXÃO


Neste dia, estamos prestes a vivenciar uma festa memorável. A celebração de eventos que deixam marcas indeléveis na vida pessoal, familiar e comunitária tem se tornado uma prática cada vez mais difundida em todas as sociedades e culturas. Estas ocasiões não apenas são oportunidades para festividades, mas também para a promoção de valores, cultura e a transmissão de ensinamentos de geração em geração. Dentre os ensinamentos que os cristãos guardam com carinho, um dele diz respeito a compaixão e ao serviço manifestados no gesto simbólico de lavar os pés!

As festas, muitas vezes, carregam consigo uma aura de nostalgia, especialmente as reuniões familiares que têm se popularizado nos últimos tempos. Nestes encontros, reunimos parentes próximos, distantes e até mesmo não parentes, mas o importante é a confraternização e o compartilhamento de momentos especiais.

Esses eventos nos remetem às festas da Páscoa, que têm um significado profundo para o povo judeu. Ano após ano, as festividades da Páscoa judaica são recuperadas com toda a solenidade, lembrando a ação de Deus em favor de seus antepassados e como essa presença divina continuou influenciando a história do povo.

É por meio desses gestos que os cristãos, ao recordarem a vida, paixão e morte de Jesus, se reúnem com o objetivo claro de incorporar os mesmos sentimentos e comportamentos de Jesus e de seus seguidores em suas próprias vidas e rotinas diárias.

A celebração da Quinta-feira Santa apresenta dois momentos distintos que ensinam uma mesma lição. No gesto do Lava-pés, os cristãos são chamados a lembrar da importância do serviço mútuo. Na instituição da Eucaristia, aprendem sobre a importância da partilha e do sacrifício para uma vida plena e digna para todos.

O texto do livro do Êxodo, proclamado na liturgia da quinta-feira que antecede a Páscoa cristã, visa recordar os detalhes da festa, enfatizando sua importância como uma instituição perpétua, uma festa memorável em honra do Senhor, a ser celebrada por todas as gerações.

Em reconhecimento à ação divina, os antigos rezavam o Salmo, expressando gratidão e prometendo cumprir suas promessas diante de Deus e de seu povo reunido.

Jesus, ao realizar o lava-pés, demonstrou ser o anfitrião da festa e da casa, associando intimamente a Páscoa judaica com o serviço de acolhida. Este gesto desafiador continua sendo um convite aos seus seguidores até os dias de hoje: celebrar a Páscoa e a instituição da Eucaristia implica lavar os pés uns dos outros.

Nesta Quinta-feira Santa, esse gesto reforça o compromisso da Campanha da Fraternidade que nos convidou a Amizade Social. Não é suficiente ser piedoso e adorar Jesus na Eucaristia; fazer memória deste fato significa repetir o gesto de humildade e serviço que Ele mesmo realizou: "Se eu, que sou o mestre e o Senhor, lavei os pés de vocês, vocês também devem lavar os pés uns dos outros”, porque vocês são todos irmãos!

 



 

HOMILIA PARA O DIA 24 DE MARÇO DE 2024 - DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - ANO B

 

VIDA DADA E DOADA CUMPRINDO A VONTADE DO PAI

      

A liturgia católica reconhece que o período da Quaresma adquire pleno significado quando o ligamos à Páscoa e à transformação que esta celebração traz consigo. Estamos habituados a percorrer os quarenta dias da Quaresma como uma jornada que nos conduz à Páscoa. O Domingo de Ramos marca a entrada solene na Semana Santa, que culmina no mistério da Páscoa essência da vida cristã, sendo a passagem mais significativa e crucial que a pessoa humana pode realizar. Em Jesus Cristo, todos os que creem nele têm a promessa da vida eterna. Para aqueles que têm seus objetivos definidos, esta jornada é desafiadora, mas ao mesmo tempo estimulante, no sentido de não se deixarem abater pelas adversidades próprias da situação. É neste contexto que podemos ler e meditar a Palavra de Deus proclamada na liturgia da Igreja.

A liturgia da Palavra começa com a narrativa da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Apesar da atmosfera festiva   proporcionada pelos habitantes locais e amigos de Jesus, Ele entra montado em um jumentinho, cumprindo assim o que o profeta anunciara na leitura inicial: "Rei messiânico, humilde e pacífico". Sua postura reflete aquele que veio para servir, não para ser servido. A entrada na cidade santa marca o desfecho de toda a jornada de Jesus e suas ações ao longo dos três anos em que ensinou e se fez conhecer por toda a região. Suas palavras são corroboradas por seu comportamento: "sinal do Reino de Deus". Ou seja, Ele é um Rei diferente. A fé que Ele pregou, longe de rituais vazios e leis excessivas, está fundamentada no espírito da verdade.

Na primeira leitura, após descrever todos os sofrimentos que um servo anônimo enfrenta, Isaías conclui com uma palavra de esperança: "Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado". Em suma, o profeta deixa claro que a confiança em Deus é capaz de superar todas as adversidades e fazer vencedores aqueles que nele confiam.

São Paulo expressa sua admiração pela comunidade de Filipos, mas enfatiza que eles precisam modelar suas atitudes conforme as de Jesus: "Jesus Cristo, existindo em condição divina, não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar, mas esvaziou-se a si mesmo, tornando-se servo". Portanto, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome”.

Nos dias que se seguem ao domingo festivo dos Ramos, Jesus enfrenta seus últimos momentos de tentação e fraqueza humana. Poderia ter desistido de tudo, aproveitando sua popularidade para provocar uma reação violenta. No entanto, Ele reafirma o propósito de sua missão: "Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua". Como cristãos, seguidores de seu projeto e ensinamentos, somos desafiados a adotar a mesma postura. A Quaresma foi um tempo de preparação e a Páscoa, para a qual nos encaminhamos, é a confirmação de nossa aceitação. Assim como Jesus, podemos dizer: "Pai, no entanto, não se faça a minha vontade, mas a tua" que consiste em promover a Amizade Social, afinal somos todos irmãos!

 

quinta-feira, 14 de março de 2024

HOMILIA PARA O DIA 17 DE MARÇO DE 2024 - QUINTO DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

VER JESUS E COMPROMETER-SE COM ELE

Estabelecer uma rede de relações que facilitem o nosso trabalho e a realização dos nossos objetivos é uma atitude sábia e cada vez mais utilizada em tempos de crises e dificuldades. A soma de esforços e a ajuda solidária é sempre um caminho importante.

A Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo ecoa profundamente em nossos corações, e tem por objetivo mostrar um caminho diferente daquele que estamos habituados a percorrer. Na pessoa de Jesus e na sua determinação vemos traçado um mapa dessa longa estrada de solidariedade e de comprometimento.

Na primeira leitura o profeta Jeremias anuncia a aliança que Deus está disposto e refazer com o seu povo. Diferente de um contrato escrito em pedras como foram os dez mandamentos, agora ele escreve no coração. Na aliança do Sinai o povo aceitou a lei como imposição externa, mas que não alcançou o coração: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei uma nova aliança; esta será a aliança: imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração”. A relação com Deus não será apenas um contrato racional, mas um laço de intimidade, de familiaridade porque vai de coração para coração. O que aconteceu outrora continua se repetindo conosco: não somos criaturas perdidas e descartáveis, somos gente de quem Deus cuida pessoalmente e por quem Ele se interessa e acompanha.

A carta aos Hebreus foi escrita para uma comunidade que vivia exposta a perseguições e num ambiente hostil à fé. Neste contexto viviam pessoas que facilmente perderam o entusiasmo e se deixaram conduzir por falsos ensinamentos. O autor dessa carta trata de apresentar Jesus Cristo como uma pessoa solidária com os sofrimentos e como caminho de salvação, mostrando que isso se concretiza pela confiança irrestrita no projeto de Deus: “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus”.

O Evangelho nos apresenta um diálogo de intermediação entre um grupo de estrangeiros e os discípulos de Jesus. Ao mesmo tempo que nos ensina a condição de discípulos e responsáveis para aproximar Jesus daqueles que não o conhecem, faz perceber que o encontro se dá na radicalidade da Cruz e no encontro com os crucificados do nosso tempo. Para ver Jesus e obviamente ficar com Ele implica compreender a dinâmica do grão de trigo e a ousadia da Cruz: “se o grão de trigo não morre, também não produzirá fruto... Se alguém quer me seguir tome a sua cruz e me siga”. As duas condições não são um caminho de fracasso, mas apontam para vida verdadeira que acontece com a semente que germina e a ressurreição com Jesus.

Para que isso aconteça conosco não precisamos de muitos discursos, mas aprender com Jesus a colocar nossa vida a serviço. Afinal todos somos irmãos!

Dai-me de novo a alegria de ser salvo *
e confirmai-me com espírito generoso!

Ensinarei vosso caminho aos pecadores, *
e para vós se voltarão os transviados.

quinta-feira, 7 de março de 2024

HOMILIA PARA O DIA 10 DE MARÇO 2024 - QUARTO DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

NADA, NEM NINGUÉM NOS FAÇA

ESQUECER O VERDADEIRO DEUS!

Não é raro que a gente use as palavras: Escuridão e noite, para indicar que estamos diante de algum problema de difícil resolução. Os problemas e dificuldades muitas vezes se avolumam que temos impressão que estamos vivendo um “apagão em nossa vida”.

A Palavra de Deus para este quarto domingo da quaresma mais uma vez nos esclarece que Deus toma a iniciativa e independente dos nossos méritos nos aponta uma luz no fim do túnel. Para essa iniciativa nossa resposta precisa ser dada com alegria e com firmeza.

Em outros tempos e noutro contexto o livro de Crônicas de onde é extraída primeira leitura nos mostra que apesar do egoísmo e da autossuficiência humana Deus nunca desiste das suas criaturas.

A leitura começa apresentando a figura de Deus como um matemático que anota débitos e créditos, na verdade não se trata de um Deus calculista, mas de uma intuição humana muito verdadeira: nós somos responsáveis por nossas escolhas e cedo ou tarde colheremos o que plantamos!

Entretanto, o texto se conclui com a certeza que Deus não abandona o seu povo e sempre lhe dá oportunidade para recomeçar e reconstruir suas vidas: “Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os reinos da terra, e encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, que está no país de Judá. Quem dentre vós todos, pertence ao seu povo? Que o Senhor, seu Deus, esteja com ele, e que se ponha a caminho".

Na carta aos Efésios temos mais uma vez a confirmação da oferta que Deus faz por meio da pessoa de Jesus e que é prova do seu amor incondicional! Sua riqueza e misericórdia não estão atreladas ao nosso pecado: “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos”.

No Evangelho fica ainda mais clara a salvação que nos é oferecida. Deus enviou o seu Filho ao nosso encontro a fim de que aprendamos com Ele a lição de amor. Sua missão consiste em mostrar ao ser humano o amor de Deus, aceitando ser pregado na Cruz ele nos mostra a grandiosidade da sua decisão. Nicodemos era um fariseu conhecedor da lei e dos profetas, apesar disso procurou Jesus na escuridão das suas dúvidas. Comparando-se a serpente que Moisés ergueu no deserto Jesus se mostra como a única e definitiva salvação para todos os caminhos humanos. Quem nele acreditar e aprender com Ele a fazer de sua vida um Dom total a Deus e às pessoas esse fará parte da comunidade do Reino. Quando ele armou a sua tenda entre nós, aceitou correr todos os riscos da fragilidade humana. Notemos que Deus não enviou seu Filho ao encontro de gente santa e perfeita, mas veio para apresentar uma nova proposta aos que vivem noites escuras.

Naturalmente que nos é pedido a mesma a humildade e a disposição de Nicodemos. Indo encontrar Jesus na escuridão das suas dúvidas ele reconhece sua própria fraqueza e busca conhecimento e sabedoria.

Rezemos também nós com o salmista:

Que se prenda a minha língua ao céu da boca,
se de ti Jerusalém, eu me esquecer!

Junto aos rios da Babilônia †
nos sentávamos chorando, *
com saudades de Sião.

Nos salgueiros por ali *
penduramos nossas harpas. 

Pois foi lá que os opressores *
nos pediram nossos cânticos;
nossos guardas exigiam *
alegria na tristeza:
"Cantai hoje para nós *
algum canto de Sião!" 

Como havemos de cantar †
os cantares do Senhor *
numa terra estrangeira?

Se de ti, Jerusalém, †
algum dia eu me esquecer, *
que resseque a minha mão! 

 

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

HOMILIA PARA O DIA 03 DE MARÇO DE 2024 - TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 UM NOVO TEMPLO PARA UMA VIDA NOVA

Com maior intensidade o tempo da quaresma é um convite a não perder Jesus e a sua palavra do foco das nossas ações cotidianas. Só Jesus nos revela e nos leva ao Pai!

O jeito como os mandamentos são descritos no texto da primeira leitura desse domingo nos oferece uma série de indicações para o itinerário de cada dia, não se trata de um limitador de liberdade, mas uma indicação de caminho seguro. Os dez mandamentos são um referencial para toda a existência humana. Com duas linhas de ação muito claras apontam a maneira mais adequada para se relacionar com Deus e com a obra criada por Deus. Em resumo se pode afirmar: nada deve ocupar o lugar de Deus em nossa vida e nada deve ser mais importante do que a relação fraterna, responsável e cuidadosa com a obra criada. Afinal de contas, com o mesmo amor que ele libertou seu povo da escravidão do Egito continua nos amando sem medida. Sem usar a expressão a leitura deixa clara a importância da Amizade social, porque somos todos irmãos! A quaresma nos sugere uma dar uma resposta: Qual o lugar de Deus e das suas criaturas em nosso cotidiano!

Na carta aos Coríntios Paulo nos sugere que tenhamos disposição para encarar a conversão cuja medida é a ‘Loucura de Deus’: “Os judeus pedem sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. Olhar e aceitar a Cruz de Jesus Cristo nos faz perceber a lição do amor que salva e restaura.

Que o nosso caminho para o Pai é a pessoa e a doutrina de Jesus Cristo não é nenhuma novidade. No Evangelho deste domingo é Ele mesmo quem se apresenta como o novo templo e a nova oferenda que agrada e que é aceita por Deus. Trata-se de uma oferenda que nem é feita nem será destruída pela mão humana. Ao longo do tempo os profetas já haviam criticado as ofertas vazias de sentido e simplesmente cumpridoras da lei e das normas do Templo, de forma nenhuma eram a expressão de amor e de respeito a Deus! Pelo contrário confirmavam a injustiça e a exploração dos pobres.

Com a autoridade de Filho, Jesus dá um basta recordando as palavras dos profetas: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio...” Com essas palavras ele se declara o novo, único e verdadeiro templo. O terceiro dia coincide com a sua ressurreição, isso significa afirmar que todas as suas ações têm o selo e a garantia de Deus.

Como tarefa para a semana a Palavra de Deus nos sugere ver no rosto de cada pessoa a misericórdia de Deus que se concretiza na solidariedade, no serviço e no perdão capazes de construir um mundo novo com a força do nosso testemunho.

Certamente o que Deus nos pede não é algo extraordinário, nem muito menos ritos solenes, pomposos e vazios. O que agrada a Deus é uma vida traduzida em gestos concretos.

O que agrada a Deus não entra em nenhum jogo comercial, porque Deus é amor! Como rezamos no salmo:

Mais desejáveis do que o ouro são eles, *
do que o ouro refinado.
Suas palavras são mais doces que o mel, *
que o mel que sai dos favos. 

 

 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

HOMILIA PARA O DIA 25 DE FEVEREIRO DE 2024 - 2º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

É NECESSÁRIO ESCUTAR E RECONHECER A VOZ DE DEUS!

 

Os quarenta dias que nos separam da Páscoa são uma indicação para o exercício da escuta e da obediência e por estas atitudes encontrar o caminho para uma vida mais santa.

O texto do Genesis nos apresenta a figura de Abraão como modelo de pessoa que escuta e obedece, estas duas atitudes lhe garantem vida e bênção. É importante perceber que o texto fala em colocar Abraão a prova e ele se submete a isso sem retrucar, apenas estando disponível ás ordens que recebia. A atitude de Abraão confirma sua absoluta confiança em Deus. A sua obediência não se resume em benefício próprio, mas alcança todas as nações da terra: “Eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra”.

Irmãos: Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus que não poupou seu próprio filho” com estas palavras Pedro fala aos cristãos de Roma e deixa claro que a vida de Jesus Cristo é a melhor prova que Deus tem para nos dar a conhecer seu amor. Com esta certeza, nada precisamos temer, com Jesus Cristo basta enfrentar a vida com serenidade e esperança.

No Evangelho experimentamos a mesma experiência de Pedro, Tiago e João: subir a montanha com Jesus ver as transformações que o Mestre experimenta e sair também nós transfigurados e capazes de discernir os apelos que o mundo nos faz.

Bastante vezes temos o sentimento de Pedro, que significa permanecer longe dos problemas e desafios que o mundo oferece. Por causa disso é também compreensível que a voz de Deus se perca em meio a tantas outras palavras. Pelo contrário, se nos deixarmos transfigurar com Jesus veremos com melhor nitidez e ouviremos com maior precisão os apelos de paz e de amizade social que o mundo nos faz. A preparação para a páscoa nos esclarece que não chegaremos à Páscoa sem passar pela experiência da paixão.

Alguns elementos do Evangelho merecem uma atenção mais apurada: Deus se revela na montanha, este encontro nos reveste com os trajes brilhantes, que em nada se comparam aos vestidos terrenos. A revelação se dá a partir do alto, no esconderijo das nuvens, onde já se encontram os justos que nos precederam na fé. O elemento mais importante é a voz que revela quem é Jesus, deixando bem claro que não se trata de um visionário que vive iludido, mas se trata do Filho amado do Pai enviado para salvar a todos! Ele é o novo Moisés e a síntese de todas as profecias, nele nascerá um povo novo que experimentará vida em abundância.

Tal como os discípulos somos também nós convidados a descer da montanha das nossas inseguranças e descobrir que no final do caminho está Jesus ressuscitado, vida plena e vitória incontestável. Então sim, podemos cantar com o salmista:

Andarei na presença de Deus,
 junto a ele na terra dos vivos”.

 

 

 

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

HOMILIA PARA O DIA 18 DE FEVEREIRO DE 2024 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

VERDADE E AMOR, SÃO OS CAMINHOS 

DO SENHOR.

O tempo da quaresma é comparado com um grande deserto, isso significa dizer período de preparação. E de fato as orações, a Palavra de Deus, os sinais e os ritos da quaresma nos preparam para a grande festa da páscoa. O conceito de deserto é apresentado pelo Papa Francisco como o lugar onde Deus fala ao coração humano e de onde brota a oração, o jejum, a esmola e outras formas de penitência e abertura para mudança de vida. Ao mesmo tempo o deserto pode ser comparado ao lugar onde o tentador aproveita as necessidades humanas e apresenta sua proposta traiçoeira e com voz mentirosa se coloca como alternativa à proposta de Deus. Por isso diz o Papa, precisamos ter serenidade para ouvir somente a voz de Deus e firmeza como Jesus. Finalmente Francisco nos adverte: “com o diabo não se dialoga”.

Nosso deserto tem um objetivo claro que se expressa na oração da missa deste primeiro domingo da quaresma: “progredir no conhecimento do mistério de Cristo e corresponder-lhe por uma vida santa” 

Não tenhamos medo! A Palavra de Deus na primeira leitura Deus toma a iniciativa de confirmar sua aliança perene desejoso que este sinal faça nascer uma nova humanidade. Conhecendo a fragilidade humana Deus estabelece uma aliança sem pedir contrapartida, em resumo se pode dizer que Deus decidiu viver em paz com a obra criada e esta decisão não é motivada por outra coisa senão por seu amor infinito, isso significa que a criatura humana não precisa viver com medo de Deus. O arco íris é o sinal do abraço de Deus para toda a humanidade.

A carta de Pedro recorda aos cristãos de outrora que eles são a semente da humanidade nova nascida do coração de Deus: “Caríssimos: Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo, pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte, na sua existência humana, mas recebeu nova vida pelo Espírito. Ele subiu ao céu e está à direita de Deus, submetendo-se a ele anjos, dominações e potestades”.

Pedro tem certeza que a morte de Cristo não foi um fracasso, antes oferecendo-se por uma causa nobre recuperou a vida e a glória. Também nós teremos a mesma condição se vivermos com coerência a escolha que fizemos no dia nosso batismo.

Marcos mostra com poucas palavras com Jesus sendo tentado pelo diabo não abriu diálogo com ele e nos ensina a recusar todas as possibilidades de fazer o mal e caminhar pelas estradas do bem. Tal como os discípulos todos são chamados a trabalhar juntos na construção do Reino de Deus. Sem fazer toda a descrição das possíveis propostas do tentador Marcos somente reafirma que depois da tentação Jesus saiu anunciando: "O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.
Convertei-vos e crede no Evangelho." Que a quaresma seja para todos uma oportunidade para concretizar a vontade de Deus Pai: “todos são irmãos”! Para melhor compreender o significado da expressão todos irmãos, querida pelo Papa Francisco vamos rezar juntos: “Ajudai-nos, nesta Quaresma, a compreender o valor da amizade social e a viver a beleza da fraternidade humana aberta a todos, para além dos nossos gostos, afetos e preferências, num caminho de verdadeira penitência e conversão”.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

HOMILIA PARA O DIA 14 DE FEVEREIRO DE 2024 - QUARTA FEIRA DE CINZAS - ANO B

 

EIS O TEMPO FAVORÁVEL, EIS O DIA DA SALVAÇÃO

Quando falamos em penitência e arrependimento facilmente associamos aos conceitos de tristeza e depressão. Porém na quaresma a penitência, o arrependimento, o jejum, a esmola e a oração são um caminho de alegria, ao mesmo tempo que nos levam a reconhecer nossa condição de pecadores nos apontam para o amor e a misericórdia de Deus.

Deus nos educa e nos tira das escravidões que a vida nos prepara e nesse processo sussurra ao nosso coração palavras de amor. Aproveitemos o tempo da quaresma como a grande oportunidade para reconhecer o Senhor nosso, que assim como libertou o povo da escravidão do Egito, nos liberte também das inúmeras servidões e prisões que vamos, sem nos dar conta, construindo ao longo da vida.

Na primeira leitura o profeta convida o povo para realizar um processo de conversão interior, de reencontrar Deus e sua misericórdia. São Paulo se apresenta aos coríntios como embaixador e faz uma exortação: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus”. O tempo pede que transformemos nossa relação com Deus e naturalmente nossa relação com todas as pessoas.

No Evangelho Jesus faz um alerta em relação às verdadeiras motivações que nos levam a dar esmola, a orar e jejuar. Se estas atitudes tiverem objetivo de buscar glória e aplausos não servem para nada antes viram uma comédia disfarçada de piedade. Mas, se praticamos a penitência e buscamos a reconciliação com um coração arrependido como rezamos no salmo:

Dai-me de novo a alegria de ser salvo *
e confirmai-me com espírito generoso!

Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor!

 

Também perceberemos o grito de tantas pessoas que chega aos céus e que toca nossos corações e nossos ouvidos com a Campanha da Fraternidade e a Carta do Papa Francisco: Todos somos irmãos! E quando falamos todos, não falamos daqueles que são nossos amigos e que pensam como nós. A amizade social que o Papa Francisco nos desafia a construir implica na prática de um amor aberto, sensível, compassivo. Fratelli Tutti não dá espaço para a seleção mesquinha, fechada e egoísta. A quaresma e a Campanha da Fraternidade deste ano devem abrir o nosso coração para todas as pessoas, também para aquelas com quem temos diferenças e que de fato são diferentes. Não tenhamos medo de voltar para Deus e de nos deixar reconciliar, não para ser visto e elogiado, mas para construir um caminho de sinodalidade no qual caibam todos e todos se respeitem como irmãos!

 

 

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

HOMILIA PARA O DIA 11 DE FEVEREIRO DE 2024 - 6º DOMINGO COMUM - ANO B

 

ESTENDER A MÃO E MANIFESTAR COMPAIXÃO

Na sequência dos outros domingos, a Palavra de Deus hoje, mostra mais uma vez a compaixão e a misericórdia de Deus. A leitura mostra o jeito recomendado pela cultura da época como tratar os leprosos, cuja pessoa portadora era considerada impura. Ontem como hoje, facilmente a imagem de Deus é apresentada como justificativa para criar a inventar situações de rejeição e de exclusão. Entretanto é preciso entender a mensagem desta leitura como uma preparação para a novidade que Jesus irá apresentar no Evangelho. Ao contrário da discriminação e indiferença, Deus abre as portas e possibilidades para integrar todas as pessoas.

São Paulo faz um convite aos cristãos de corinto partindo do seu próprio testemunho: “Fazei como eu, que procuro agradar a todos, em tudo, não buscando o que é vantajoso para mim mesmo, mas o que é vantajoso para todos, a fim de que sejam salvos”. Paulo também segue o exemplo de Cristo que fez de sua vida um dom de amor pela causa do Reino.  Os cristãos de todos os tempos precisam se convencer que toda a sua vida tem uma única finalidade: Promover o bem de todos, mesmo que isso exija abrir mão de alguma vantagem ou direito particular tendo sempre como referência Jesus Cristo que sendo Deus assumiu a condição humana.

No Evangelho temos mais uma narrativa carregada de compaixão e como das outras vezes Jesus repete as mesmas atitudes: Aproxima-se, estende a mão, cura, reintegra, e revela o rosto misericordioso de Deus. Na pessoa de Jesus é Deus mesmo quem desce ao encontro dos seus filhos, seus gestos, atitudes e palavras manifestam a compaixão que livra a pessoa do sofrimento e abre as portas para que seja integrada a comunidade: “Então Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles".

Toda a narrativa de Marcos apresenta amor, bondade, ternura, características do Deus a quem Jesus obedece vindo ao encontro dos desesperançados Jesus restabelece a comunhão que os preceitos legalistas dos fariseus tinham rompido. Diferente dos chefes das sinagogas que criam barreiras e muros, Jesus estabelece laços de comunhão e pontes que dão acesso. A ação de Jesus encoraja o leproso a infringir a lei da separação e se aproxima de Jesus e das pessoas que o cercavam. Ele está decidido a mudar a sua triste situação, custe o que custar! Ele não procura apenas a cura da lepra, mas o seu direito de pertença à comunidade.

Nossas comunidades e Igrejas continuam a se defrontar com o fantasma da “lepra” disfarçada de muitas maneiras que desrespeitam a dignidade da pessoa. Como cristãos somos desafiados a construir solidariedade capaz de romper a ‘lepra’ que impede a participação e a comunhão. Dentre elas inclusive normas religiosas que rotulam e selecionam as pessoas entre boas e más, santas e pecadoras. Em resumo, todos somos chamados a nos deixar envolver pela compaixão do Mestre, aproximar-se e estender a mão.

Que nossa ação confirme a oração que fizemos no salmo:

Sois, Senhor, para mim, alegria e refúgio.

Feliz o homem que foi perdoado *
e cuja falta já foi encoberta!

Feliz o homem a quem o Senhor †
não olha mais como sendo culpado, *
e em cuja alma não há falsidade!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

HOMILIA PARA O DIA 04 DE FEVEREIRO DE 2024 - 5º DOMINGO COMUM - ANO B

 

RECONHECER JESUS IMPLICA SE COLOCAR

 A SERVIÇO DAS PESSOAS

Dentre as muitas perguntas que intrigam o nosso cotidiano, uma delas diz respeito ao sofrimento e a morte. Não raro continuamos fazendo as mesmas perguntas e atribuindo a Deus a origem de tudo o que nos causa dor e que nem sempre conseguimos explicar. As leituras proclamadas neste domingo não dão uma resposta sobre as razões do sofrimento, mas apontam alternativas para quem quer ultrapassar essa situação absolutamente humana e que faz parte da vida de todos.

O texto do livro de Jó desmascara a falsa ideia de um deus vingativo e que negocia favores de acordo com o comportamento humano. O autor do livro tem uma certeza: Deus é a única esperança e certeza que não estamos sozinhos quando o sofrimento bate à nossa porta. Deus está muito além de toda lógica humana, ele ama indistintamente e aos humanos cabe reconhecer a pequenez e a incapacidade de compreender a onipotência divina. O grito de Jó é a expressão de alguém que sabe que só em Deus pode encontrar esperança e razão para viver. Dê a vida quantas voltas der, Deus está sempre nos conduzindo para a felicidade!

Aos coríntios Paulo esclarece que o amor é o princípio fundamental para guiar todos os passos. Ele mesmo se fez um servidor do Evangelho e o fez vivendo no amor e pelo amor: “Pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.

No Evangelho, Marcos coloca Jesus indo ao encontro daqueles que estão prostrados pelo sofrimento. Primeiro ele dá a mão à sogra de Pedro, na escuridão em que estava imersa a população da redondeza Ele vai ao encontro e cura muitas pessoas. É importante lembrar que no contexto de outrora todos os sofrimentos e doenças eram considerados resultados dos pecados e da força maligna sobre as pessoas.

É necessário destacar três ações descritas no evangelho: Jesus se aproxima, toma pela mão e a pessoa se coloca a servir.

Como seguidores de Jesus cada pessoa é convidada a ir com Ele como os três discípulos; como eles continuar a ação de Jesus: aproximar-se e tomar pela mão! Na porta de nossas casas uma multidão continua mergulhada na escuridão e sem esperança, só quem está com Jesus é capaz de lhes apontar a luz que lhes permiti caminhar e fazê-los repetir a atitude da sogra e Pedro: Levantar-se e se pôr a servir!

Ser discípulo de Jesus na atualidade implica viver a sinodalidade que nos pede o Papa Francisco. Isso é, caminhar juntos e facilitar para que todos caminhem juntos! Para isso precisamos aprender com Jesus a ter um diálogo íntimo e profundo com Deus por meio da Oração que nos coloca também no serviço. Jesus nos ensina a correta medida entre ficar sozinho com o Pai e sair para caminhar junto com aqueles que sofrem! Que de fato aprendamos o que rezamos no salmo: “ele conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura”.